sábado, setembro 08, 2007

O Mosteiro de Cós e o Futuro

O futuro do Mosteiro de Cós, monumento a que o Prof. Gérard Leroux dedicou um magnífico texto nas páginas do jornal “O Alcoa” (edição do passado dia 30 de Agosto de 2007), é ainda incerto, pese embora a crescente atenção que tem suscitado recentemente junto de algumas autoridades públicas. Nestas coisas de recuperação do património é muito importante que se começe pelo princípio ou seja, que antes de se iniciar qualquer trabalho ou de se contratar qualquer projectista, se discuta publicamente sobre a estratégia e os princípios gerais orientadores da intervenção. Preservar a memória é um dos princípios que defendo para Cós e para o tão desejado projecto de requalificação do seu magnífico Mosteiro. Sem o assentimento quanto a princípios gerais orientadores nenhum projecto poderá alcançar grandeza, pois a sua condição será como a de um corpo sem vida e sem alma.

Em Portugal é difícil dizer bem, sói dizer-se por aí. Mas também há coisas bem feitas em Portugal no que se refere à recuperação de mosteiros com passados de saque, destruição e abandono em tudo idênticos ao nosso Mosteiro de Cós. É o caso do Mosteiro de São Martinho de Tibães, situado bem perto de Braga, e que está a ser alvo de uma intervenção por muitos considerada extraordinária. O princípio a que aludi antes materializou-se neste caso na entrega da gestão dos equipamentos a uma comunidade religiosa feminina. Todo o projecto se orientou e desenvolveu a partir daí.

O envolvimento da Igreja no projecto de requalificação do Mosteiro de Cós parece-me ser não apenas da mais elementar justiça face à História, mas também de grande interesse público para a preservação e gestão de um bem cujo valor e significado reais, por muito que isso custe a alguns, não são de apreensão imediata. Espero sinceramente que as autoridades civis e religiosas estejam à altura deste desafio e que possamos contar daqui a poucos anos com uma obra exemplar na qual todos nos possamos rever sem remorsos ou dúvidas.

O que proporia desde já às autoridades civis e religiosas, e peço perdão pelo atrevimento, seria a criação de uma Comissão de Acompanhamento, devidamente enquadrada do ponto de vista do papel e atribuições de cada uma das entidades envolvidas ao longo das várias etapas do processo, começando desde logo pela sua concepção. Até porque existem já ideias e um património de conhecimento histórico que seria de qualquer forma bastante imprudente desprezar numa altura destas. Como empresária e amante da terra onde nasci e vivi grande parte da minha vida, tenho estado e estarei sempre disponível para colaborar voluntariamente naquilo que for necessário.

Deixo aqui como exemplo algumas fotografias da intervenção actualmente em curso em Tibães. Mais fotografias e informações sobre este projecto poderão ser encontradas no link que indiquei acima (http://www.mosteirodetibaes.org/).




Raquel Romão, in Região de Cister, 20 de Setembro de 2007

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