domingo, março 09, 2008

Hospital de Alcobaça: o presente e o futuro











Raquel Romão


Por diversas vezes tenho tido contacto com o Hospital Bernardino Lopes de Oliveira, o hospital de Alcobaça, a funcionar num edifício com mais de 100 anos, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça. O edifício é pouco moderno, o espaço não abunda, o quadro médico estará porventura deficitário em número e em algumas especialidades importantes, mas o facto é que sempre que ali me desloquei pude verificar a grande competência de médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde, bem como a excelência dos serviços e dos cuidados de saúde prestados aos utentes. Há cerca de um mês uma fantástica equipa de serviço nas urgências salvou a vida de um familiar próximo que muito amo e estou-lhes por isso, como não poderia deixar de ser, eternamente agradecida. A excelência deste hospital de que me orgulho como alcobacense foi oficialmente reconhecida num estudo feito para a Direcção-Geral da Saúde em 2005, temdo-lhe sido atribuída a nota mais elevada em matéria de eficiência e qualidade de serviços prestados, num conjunto de vários hospitais congéneres de todo o país. Este resultado devia levar-nos a concluir aquilo que afinal parece óbvio: são as pessoas, os técnicos de saúde, que fazem sobretudo a qualidade de um hospital. É o software muito mais do que o hardware, que leva a resultados destes, ainda para mais quando se comparam hospitais com hardware semelhante, como se fez no referido estudo. Porém, como vem sendo já um hábito, as preocupações do governo oscilam entre o hardware e o chamado software de gestão, este último visando supostamente reduzir a despesa do Estado com o Serviço Nacional de Saúde, o que pretende conseguir através da “optimização do sistema” (leia-se o encerramento de serviços de urgência, de maternidades e unidades de saúde com um número de utentes considerado, na óptica da eficiência económica, como insuficiente) e do maior envolvimento dos privados no (muito delicado) sector da saúde.

O hospital de Alcobaça está, segundo dizem, condenado ao desaparecimento. Para ser substituído por uma nova unidade hospitalar moderna de grandes dimensões a localizar ao que tudo indica em Alfeizerão, no extremo sul do concelho de Alcobaça. A cidade de Alcobaça e as freguesias a norte do concelho actualmente servidas pelo hospital de Alcobaça irão ser prejudicadas, com tempos de deslocação que poderão rondar os 25 a 30 minutos até ao novo hospital. Tal significa para a cidade de Alcobaça e para as freguesias afectadas um prejuízo que se poderá traduzir num maior número de mortes por ano de pessoas a necessitarem com urgência de cuidados de saúde. Nada disto é porém novo no país, pois vem ao encontro das políticas de saúde que têm vindo a ser promovidas pelos sucessivos governos PS e PSD. Para os privados, interessados como estão no “negócio da saúde”, será porventura vantajosa a construção do novo hospital Oeste-Norte, cujo “software de gestão ainda se desconhece mas que não será muito difícil de adivinhar. O que sei é não devia caber aos políticos zelar pelos interesses dos privados, mas sim pelo bem comum, e em particular pela saúde visto tratar-se de um bem essencial, indispensável ao exercício da cidadania. Seria por isso bom que os munícipes alcobacenses soubessem qual a posição final dos políticos (e partidos) locais face ao mais que provável encerramento do hospital de Alcobaça, coisa que a acontecer eu naturalmente muito lamentarei.

Seria a meu ver essencial que se percebesse exactamente porque razão o actual hospital de Alcobaça funciona. dentro das suas possibilidades, tão bem. Eu digo-vos que prefiro muitos pequenos hospitais, próximos das populações que servem e dotados de pequenas equipas de grandes técnicos de saúde; do que poucos e grandes hospitais impessoais e distantes, com centenas de técnicos de saúde proletarizados que não chegam sequer a conhecer-se uns aos outros e a criar entre si um verdadeiro espírito de equipa e de missão, essenciais para que possam fazer bem o seu trabalho. O erro será certamente meu por ver assim as coisas, de uma forma tão próxima e familiar, mas o tempo me dirá se tenho ou não razão.


Cós, 8 de Março de 2008