segunda-feira, setembro 15, 2008

Um grande poeta do concelho de Alcobaça: Paulo Ferreira Borges

Existem no concelho de Alcobaça pessoas verdadeiramente notáveis que permanecem entre nós como que num resguardado silêncio, como convém aos artífices do eterno. É o caso de Paulo Ferreira Borges, poeta natural de Pataias e cuja poesia é de uma beleza contagiante e quase mágica. Nascido em Pataias em 1961, Paulo Ferreira Borges cursou Direito, tendo por essa altura colaborado com o DN Jovem onde publicou alguns dos seus primeiros poemas. Foram-lhe atribuídos os prémios de Revelação de Poesia Fernando Pessoa 2001, pelo livro A Água Materna dos Poentes, e de Revelação de Poesia da APE/IPLB 1999 pelo livro Para Tentear a Desmesura. Do seu último livro, intitulado Do Tempo Sitiado, retirámos alguns versos que espelham bem a qualidade da sua poesia:

As mães trazem cerejas numa cesta de vime
Nas noites de vésperas, os seus dedos
cheiram a pão-de-ló, a erva-doce, a canela,
a raspa de limão, e nos seus olhos vertiginosos
derrama-se uma cor de fogo escuro, semelhante
à do licor de ginja que dorme na paciência de vidro
das garrafas depois de incorporar as últimas pétalas de sol.


(...)

As mulheres tinham varandas, pequenas cercanias
que se prolongavam dos olhos, da boca, do ventre
onde penteavam os seus longos cabelos pretos
e se punham a pensar, a tecer os filhos, a estender a roupa branca
com uma mola de madeira apertada nos dentes.
Nas varandas mais recônditas
as mulheres labiavam preces, terçavam promessas
intercediam, mediavam, nutriam as lamparinas
de azeite, até ao dia em que os filhos
regressavam das guerras ou de outras tormentas.
As mulheres tinham varandas. E quando morriam
era numa toda envidraçada
que dava para dentro dos seus corações.

(Editora: Textiverso, Capa: Aguarela de Mário Botas, Patrocínio: Junta de Freguesia de Pataias)
Um grande poeta a seguir com muita atenção, pelo que o Bazar das Monjas recomenda aqui vivamente a compra dos seus livros!