quinta-feira, maio 08, 2008

O conteúdo energético dos alimentos, a sustentabilidade e o aquecimento global


Quem trabalha e come
Não come o pão de ninguém.
Mas quem come e não trabalha
Come sempre o pão de alguém.

António Aleixo


Este não é um texto sobre nutricionismo. É sobre desenvolvimento sustentável e ambiente, e traz â memória as palavras verdadeiras do poeta António Aleixo que o encimam. O tema é simples: quanta energia traz dentro de si este pão que agora como, para além das calorias do trigo de que é feito?

Desde logo o trigo teve de ser semeado e tratado e isso consumiu energia, grande parte dela de origem fóssil. Para facilitar não contabilizo a energia com que foram feitos os tractores a as modernas ceifeiras mecânicas que se usam lá nas terras do tio Sam. Olho apenas para a energia incorporada nos fertilizantes químicos, nos pesticidas; para a electricidade que gastam os motores que bombeiam a água que rega os campos. E para a energia que gastam esses tractores e ceifeiras, e os homens que os operam. Calculo também a energia dos camiões que transportam o trigo até aos armazéns, e a energia que faz funcionar esses armazéns e também os camiões que transportam o cereal até aos navios. Não esqueço o combustível que gastam os navios que o Atlântico atravessam, nem a energia que consomem os silos que o trigo deles recolhem novamente até aos camiões. Novamente o combustível dos camiões até às fábricas da farinha, que eram os moinhos de vento dos tempos dos meus avós. E contabilizo a energia gasta pelas fábricas da farinha, e novamente pelos camiões até às fábricas do pão, panificações como agora lhes chamam e que trabalham a gás não renovável, quando antes eram os fornos que coziam o pão com o calor renovável das cavacas. Quando o pão chega à minha mão depois de mais uma viagem, desta vez na carrinha turbo-diesel da padeira, já estou um pouco confuso com os cálculos. São tantas parcelas e o pão é tão pequeno! Mas prossigo e peso-o: trezentas gramas, o que dá pela tabela 1000 calorias. Revejo os cálculos, pois sinto que não pode ser. Como pode o meu pão ter gasto até aqui chegar muito mais energia do que aquela que traz dentro de si? Será que devo comê-lo? Estarei a comer o pão de alguém?

Valdemar Rodrigues
Prof. Univ.

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